Carta Mensal JF TRUST – Agosto de 2021
10/09/2021No cenário de curto prazo, a recuperação da atividade econômica seguirá no terceiro e no quarto trimestre, mas a perspectiva para 2022 já é mais negativa, na margem. A mediana das expectativas para o crescimento real do Produto Interno Bruto do próximo ano tem recuado e na pesquisa mais recente do mercado, passou de 2,0% para 1,93%.
Ter um crescimento de 4,8% ou 4,9% é um detalhe, ou seja, já está precificado pelo mercado e em função da base de comparação de um ciclo tipicamente de “stop and go”. Parte do nosso crescimento dos últimos trimestres foi puxado pela demanda externa, vindo das exportações liquidas, na esteira do ciclo de alta dos preços das commodities e pela demanda interna, pelo impacto defasado da taxa de juros reduzida que atingiu 2% no final do ciclo de flexibilização.
Não vamos contar com esses dois impulsos em 2022, no caso da demanda externa com uma taxa mais moderada e no caso dos juros, vai ajudar a desacelerar o PIB. Pela ótica das commodities, avaliamos que o movimento de desaceleração das commodities não será “robusto” e tem maior probabilidade de suporte de preços, a não ser que ocorra um rali significativamente negativo no mercado de renda variável através de uma realização das bolsas norte-americanas, que não parece ser o cenário provável no curto prazo, com o Federal Reserve sendo bem cauteloso na retirada dos estímulos monetários e sobretudo, quando iniciar a elevação da taxa de juros, esperada somente para o final de 2022.
O fato é que será desafiador o controle da inflação nos próximos meses. Além da crise hídrica interna, os estoques agrícolas das principais culturas estão em níveis considerados reduzidos pelo padrão histórico:
(i) Os preços reduzidos no passado e sem uma resposta da produção norteamericana, estamos convivendo com uma trajetória de alta dos preços das carnes e uma nova escalada de demanda de suínos pelos chineses;
(ii) As condições climáticas desfavoráveis da região Centro-Norte dos Estados Unidos (Nebrasca, Minesota, Dakota etc) , onde concentra mais de 30% a 40% das produções de soja e milho corroboram que quedas de preços serão mais pontuais do que sustentáveis;
(iii) A despeito de uma boa safra esperada nos Estados Unidos, os estoques iniciais e finais estão reduzidos, além do fato que a China está importando um volume similar em 2021; Carta Mensal JF TRUST – Agosto de 2021 www.jftrust.com.br
(iv) Deve-se ressaltar que os chineses anteciparam compras (importações) de agrícolas em 2020, pois os preços da soja estavam baixos em US$ em 2020: a China aproveitou e operou.
Entretanto, da mesma forma que 2021, um movimento de redução dos preços agrícolas no mercado de Chicago e/ou no Brasil, a China antecipará as compras de 2022; (v) A perspectiva é da redução dos preços médios da soja nos próximos anos, mas de forma gradual, pois ainda estamos no processo de recomposição de estoques. No caso do milho, em função das importações chinesas, ciclo mais longo de ajuste entre oferta e demanda para reduzir preço.