Carta Mensal JF TRUST – Dezembro de 2022
28/12/2022 - JF TrustInflação de 2023 superará a média do mercado, demandando um rígido controle do gasto e nova âncora fiscal, para evitar ajuste da Selic
Estamos terminando o ano de 2022, e claro, o foco dos mercados será a condução da política econômica do novo governo que tomará posse oficialmente em janeiro de 2023. Entre a primeira semana de dezembro e essa última, não ocorreu alteração relevante dos preços dos ativos, sendo que na margem alguns pioraram, captando a percepção do risco das contas públicas (leia-se perspectiva da dívida pública/PIB) e da inflação.
A última mediana das expectativas da inflação (IPCA) de 2023, até o fechamento desse documento, apontou deterioração de 5,02% há quatro semanas atrás para 5,23%, enquanto para 2024, de 3,5% para 3,6%. Nossas estimativas econométricas apontam taxas mais elevadas, sendo que para 2023, a taxa de 6,12% seria o piso atual da nossa projeção e não o cenário referencial. Desta forma é racional, uma rigidez do mercado de precificar alguma elevação da taxa básica de juros em 2023 captada no mercado futuro do DI.
Avaliamos que o cenário é desafiador para o Bacen, que deverá conviver com uma deterioração do resultado fiscal , que estimamos de quase 4 p.p. do PIB de impulso na demanda. A resposta natural esperada na função reação do Bacen seria aumentar os juros em pelo menos 1 p.p.. O cenário externo terá sua contribuição na dinâmica dos preços internos e não somente o impacto da redução dos subsídios fiscais sobre a inflação dos combustíveis.
No exterior, é fato que as taxas de inflação ao consumidor (CPI) e do relevante índice PCE (Personal Consumer Expenditure) dos EUA estão desacelerando - suavemente pela taxa anualizada - o que até provocou um ajuste para baixo do dólar entre novembro e dezembro ante outras moedas fortes, combinado com a desaceleração do ritmo da alta dos juros nos EUA pelo Federal Reserve para 50 e posteriormente para 25 pontos nos próximos meses. Entretanto o debate agora é o prolongamento da taxa do fed fund e o seu nível final no ciclo restritivo.
A inflação pode desacelerar, mas um índice de preços apurado pela regional do Fed apontava uma taxa de 6,6% no final de novembro, e aparentemente, o cenário mais provável é que a taxa do CPI tenha uma “gravitação” entre 4% a 6% a.a. ao longo de 2023, o que seja, ainda ficará distante da taxas de 2,0% a 3,0%.
Não alteramos o nosso cenário referencial já discutido nas cartas anteriores: o ambiente de uma inflação ainda em patamar elevado ante à meta sugere prolongamento da alta dos juros e o aumento da probabilidade da recessão nos EUA...